domingo, 7 de abril de 2013

Não basta falar eu te amo, precisa agir eu te amo.


Ele sabia que não tinha razão. Perigava perder a moça.  Pensou rápido, sacou um Eu te amo, atirou na direção dela. Deu certo!  Inimigo atingido em cheio! Vencida pela emoção, meio tonta pela surpresa, ela se rendeu. Primeiro round: moça na lona, moço 10!
Ele se valia disso, sempre dava certo, nunca falhou. Quer dizer, dava certo por algum tempo. Depois, com a repetição dos sumiços, das pisadas na bola, ia perdendo a força.  Os Eu te amo, em confronto com suas atitudes, o pouco investimento, a falta de atenção, já não colavam mais. Ele falava Eu te amo. Mas não agia Eu te amo, não havia amor no que fazia. Amor é olhar brilhando, atenção, interesse, estar por perto do jeito que puder. Isso é amor, entre outras coisas - e nenhuma delas vinha do rapaz.
Ele  fazia um estilo ioiô. No impulso que dava para se aproximar, já pegava o embalo para o caminho de volta. Era um perto/longe constante, desesperador para a outra parte.
A moça, já chateada, tinha dado um ultimato. Ele, ameaçado, blefou. Poker face, jogador profissional. Amava mesmo? Jamais saberemos. Nem vem muito ao caso. Porque mais importante do que se enredar nesse emaranhado de emoções ambíguas é pensar se vale a pena essa relação montanha-russa, esse amor de altos e baixos.
Para a moça, no início, valia cada segundo perto. Mas, o vácuo que vinha a seguir, a ausência injustificada, as desculpas ocas que se seguiam e a dor do abandono jogavam tudo por água a baixo. Não compensava. Aquele barco estava fazendo água, ia afundar. Questão de tempo, uma tragédia anunciada.
Impossível dar seguimento à vida quando se vive num mar revolto. Consome toda a energia, o pensamento dissipa, a vida cansa. Ela também percebia que estava e não estava em todo o resto. Porque a dúvida e a ruminação mental não dão trégua. O tumulto interno da insegurança come por dentro, a frustração faz tremer a alma. Será que valia mesmo a pena?
Não valia. Pelo menos para ela, depois de muitas tentativas, já não valia mais. Porque ela tinha uma vida inteira de tarefas e afetos começando a engarrafar, precisava desviar o foco, tomar decisões, dar seguimento às suas coisas. Nenhuma vida deveria ser restrita às idas e vindas de um amor.  Era preciso ir além do ele sumiu /ele voltou.
Percebia que aquela relação, que ela nem sabia exatamente o que era, não ia bem. Tinha medos. Medo de dispensar o rapaz e se arrepender. E se aquela fosse realmente A vez em que iria dar certo? E se ele tivesse mesmo mudado? Será que era ela que exigia demais? Se voltou é porque tinha sentido sua falta. Então, gostava, não gostava? E assim passavam as horas, a moça e as horas da vida da moça.
Ela tinha sonhos, muitos e coloridos. Tentava encaixar o rapaz neles. Ele ficava como o sapato de cristal no pé das irmãs da Cinderela. Meio sonho apertado na frente, meio sonho descoberto atrás.
Pensava em tomar uma decisão. Mas, na hora H, o medo olhava no fundo dos seus olhos, de dentro para fora, e ela paralisava insegura.  Medo interrompe o caminho, embota o raciocínio, embaça a visão. Medos espreitam no escuro da mente, envenenam a calma. O medo infecta a alma como um vírus faz com o computador. De repente, tudo perde o comando, não obedece mais.  Você não consegue mudar de página. Suas teorias apagam. Conhecimentos, que poderiam ser fundamentais para o momento, somem. Você perde dados e experiências anteriormente adquiridas a duras penas.
Medos são venenos que compramos para nós mesmos. Lemos a bula, compreendemos as contraindicações e, em vez de jogar o frasco fora, aumentamos a dosagem, e tomamos religiosamente. Porque me amarro com meu medo, em vez de me soltar e correr? Porque me enveneno de temores, em vez de rumar para a liberdade e a paz?
Não era o rapaz que prendia a moça. Ele mentia, inventava, fazia curvas para fugir de explicações? Sim. Mas quem prendia a moça era a própria moça que, livre para dizer não e partir, permanecia na ratoeira. Tinha a chave, mas não destrancava a porta da prisão.
O coração avisa, a gente cisma em não escutar. A intuição aponta, a gente vira o rosto. Temos sirenes internas e ignoramos o risco de desabamento.
É preciso reagir. Interromper as doses de veneno, pensar diferente, ousar, se permitir uma chance, um novo movimento e ir além.  A vida pede coragem. Exige que se escolha o melhor possível, que não se acomode com o que maltrata, destrata ou é ruim. O que dói, o que machuca, não é amor.
Tomara que, quando o rapaz voltar, pela milésima vez, ela não esteja mais lá. Num lampejo de coragem, tenha desfeito as amarras, levantado âncora e zarpado em busca de novos mares. Esse seria um final mais feliz.

 Mônica El Bayeh

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

(Des)Caminho ...

 E, sigo naquela contínua. Caminhando pelos mesmos caminhos que levam sempre aos mesmo lugares. É hora da travessia e os caminhos se tornam confusos e nebulosos, se assim posso chamá-los. São escolhas e abandonos que, de certa forma estagnam e faz com que as coisas se tornem confusas. As escolhas a serem feitas são muitas, escolhas que são divisores de águas. Exagerado, do grande Cazuza caberia aqui agora, mas, muito mais que exagero a realidade, a imposição e a lealdade aos desejos chamam. É um convite saudável, porém dolorido. Abandonar as roupas usadas, os passos dados e os caminhos percorridos. São atitudes que você cobra do tempo e o tempo cobra de você. Que joguete fantástico, esse que a vida faz com os viventes. Se responsabilizar por ser o que se é e por aquilo que vier a tornar-se. Não é fácil ser autor da própria história. Ninguém disse que seria fácil, porém difícil também não é, disseram.  Nesse meio, há detalhes a serem percebidos e pesos que devem ser deixados para trás. Porque carregar pesos desnecessários causam angústias desnecessárias. É bem clichê mas, bem verdadeiro também.  Hoje ao entardecer, via o sol se pôr e ao ouvir reflexões de um grisalho, viajava na maionese e na realidade que ele verbalizava, dizia este que, debaixo dos ceus há um tempo necessário para tudo e que, não devemos nem ao menos pudemos, alterar a sequências dos acontecimentos de nossas vidas. Ao ouvir com cautela suas palavras via o sol indo embora pelo vidro embaçado do carro. Ao pensar com carinho no que foi dito naquele caminho de volta pra casa, contemplava a mais bela paisagem que alguém já pudera. A lua, escandalosamente linda, surgia por trás de uma velha árvore seca. E, com isso só via quanta contradição há nessa vida.  Árvore seca, sendo cenário de uma bela lua, pôr do sol indescritível para pensamentos poucos certos e firmes. Quem disse que a vida  tem que ser colorida e feliz?  Contradições, idas, vindas, erros, acertos, sorrisos, descontentamento, paz e desencanto interior também têm suas belezas. Longe desta criatura divina que aqui escreve, querer fazer a linha deprimida e carente, mas é isso. O descontente é também contente. Sempre dá pra extrair algo, uma sabedoria, um pensamento/ideia que será útil. Sempre, sempre de qualquer situação se pode extrair algo de bom.   

domingo, 30 de dezembro de 2012

(Re)Começar

             E como não dizer que a calmaria no peito, o sorriso tranquilo e a mente levinha feito folha ao vento é aos mãos de Deus? Pois, como não querer, desarmar de pensamentos que travam, de pessoas que atrasam e de coisas que estagnam? É uma força que vem de dentro, pensamentos que se renovam, pois, diante de muitas coisas passadas e vividas, é necessário refletir. Não trazendo isso como uma forma clichê, que ao chegado último dia do ano se avalia o que foi feito, se faz planos, os velhos planos que não foram concretizados outrora. É trazido de forma plena, viva. Uma vontade de mudar a favor da vida, e de todas as trezentos e sessenta e cinco oportunidades que é oferecida, vontade de não perder nada de tudo que puder ser vivido, abraçar cada coisa como se fosse a última, como só existindo um exemplar dessa. E, não é uma vontade utópica, projetada e idealizada é uma vontade real, que emana de cada ato, a partir da percepção de que, as a mudança e a felicidade desejada depende única e exclusivamente daquilo que é permitido. Acredito no poder de resiliência do ser humano, de caminhar pelos infortúnios e se sobressair de forma que, possa construir coisas grandiosas. Diante de um ano que finda, e de todas as oportunidades e as não oportunidades vividas, diante de dias tempestivos, humores ácidos, acontecimentos ruins, como também diante de acontecimentos únicos, olhares impar, e dias especias, agradeço aquele que sempre fortalece, que sempre olha, cuida e protege, por cada momento vivido, sendo ele bom ou não. Agradeço pelo cuidado e pelo olhar que é lançado, olhar de compreensão e de amor incondicional, por renascer a cada dia nos corações  trazendo a esperança e a fortaleza. Os planos para os trezentos e sessenta e cinco dias que viram, são muitos, porém dispensa-los-ei aqui. O único pedido é paz e saúde todo resto e consequência. Uma vez que a mente se renova, com conceitos que são descartados, conhecimentos que são adquiridos, experiências vivas, novas oportunidades,  resignificações,  tudo se faz novo. Tudo tende a prosperar. Um (re)começo cheio de luz e positividade. Vou lá, já começou!          

domingo, 16 de dezembro de 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

...

            Olhando para os passos já dados, pelas decisões tomadas e as não tomadas, eu vejo o quanto você me doí de vez em quando. Percebo os lugares ocupados e os sentimentos vividos, vejo ainda o quanto sou vulnerável a essas camadas de sentimentos que de mim emanam a cada aparição sua. É uma somática que se dá de forma quase inexplicável,  é um modo de perder-se dentro de mim mesma. Alguém me explica isso por favor ? Será que amor é isso mesmo ? se não for, o que há de ser ?...  As vezes eu me desvencilho de livros, artigos, notícias e desmorono, por alguns minutos ou horas, onde só você vem a tona e ai eu desamarro um pranto, aquele mesmo pranto antigo, de quando você já tava indo embora e eu me apercebi de que tava fechando a porta para aquele que despertava e ainda desperta os mais bonitos sorrisos que eu posso oferecer ao céu, ao sol e as estrelas. Sempre que me pego pensando, sentindo,  penso que uma palavra, uma ação teria sido suficiente pra mudar nosso roteiro, mas, em contrapartida penso que se as coisas aconteceram e hoje são como são, algum motivo/objetivo há de ter. Mesmo que eu desconheça esse, há de ter. Você é um ponto final que não existe, interrogações contantes, a ligação as doze e quarenta da madrugada, é a confusão quando eu digo que não, é a contradição que arranca de mim tudo aquilo que deseja, é o telefone que não toca no dia seguinte depois de dividir o mesmo travesseiro que eu, é a mentira que eu sempre acredito. E dentre os últimos acontecimentos eu venho me perguntando o porque de me faltar tanto, no momento em que mais preciso de mim mesma, no momento em que preciso de valorizar minhas asas  e levantar voo. É uma fuga de pensamento que só desemboca em você, o que terás feito, feitiço, mágia ou o simples fato de ir aonde ninguém foi, ou terá sido o fato de ter ficado quando todos foram embora, ou será ainda que foi quando você se doou e se desarmou, do medo  de estar e ser comigo?  Percebo o quanto alimento as sessões de ausência, cultuando uma presença que não virá a minha vontade, satisfazer meu bel-prazer. Eu gosto com uma força bruta que não entendo bem, e se em meio aos seus silêncios a oportunidade vir a calhar eu só pediria para me ajudar a entender. Mas, nesse seu silêncio eu também silencio, sem entender o porque, olhando você e pensando o quanto eu quero, o quanto eu sinto. Só que o silencio faz um barulho danado.



                                                                                                    "Mas, toda vez que eu procuro uma saída, acabo 
                                                                                                    entrando sem querer na tua vida."

sábado, 1 de setembro de 2012

Noite


         O abraço que cabe tudo, absolutamente tudo. O abraço mais rápido e mais gostoso, o mais quente, o mais cheio de sentimento, o mais confortante, o mais acolhedor, o mais especial, o mais ... Enfim, poderia eu elencar inúmeros adjetivos para aquele abraço inesperado que fez da minha noite menos doída e  triste. Ah,como sempre volto para as mesmas coisas sempre, quando digo em silêncio que não te quero, que vou te esquecer, que o  tempo já se passou, que não deu, que acabou e ponto final. Ah, que se dane as promessas em silêncio, nunca me levei a sério nessas promessas comigo mesma, sempre me sabotando e sempre contrariando os ditos impostos por mim. A noite tinha uma lua tipo, branca cinzenta que contracenava desse abraço e desses vários sentimentos que tomaram conta do corpo e da mente. Deus, como foi bom. Como eu esperei. Neuroticamente falando, era por isso que esperava. Esperava por seu sorriso, por seu olhar, por seu toque, enfim, esperava por você, mesmo que em uma fração de segundos. Aqui, o relógio tictaqueia  no mesmo compaso do tum-tá do coração, nesta noite, acalentado. A você que tem o poder/dom de mudar, de afetar e de fazer bem, tome: meu afeto.  ♥♥♥

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

(re)memorar

 Aqui, as três e vinte  nove, com o velho hábito de sempre, "trocando o dia pela noite" com o olho na tela do computador e a cabeça lá, em você, naquela vidinha simples, na rotina diária, na casinha humilde, com coração gigante e o sorriso que anima o dia. É permanente ainda todo o sentimento que foi construído entre nós de maneira sutil, espontânea e sincera. É clichê, mas, o melhor dos acontecimentos foi você, o que chegou mudando o rumo, a proza, o jeito, o gesto, o riso. Ficando a boba, toda desconcertada com tudo aquilo que acontecia implícito e explícitamente. As noites tem gosto de saudade, as lembranças tem sabor de tristeza, mas, como tudo aquilo que é cíclico na vida (ás vezes nem tudo) dou-me como insatisfeita, não que vá revolucionar e querer mudar o curso normal dos acontecimentos (deveria), da vida, hoje tudo é novo e tão velho ao mesmo tempo, contraditório? É, a mais pura verdade. Contradição. Aquele meio tempo em que as vozes silenciaram, resulta hoje em estórias, é, estórias que foram se moldando nesse meio tempo colocado por nós de forma oculta. Há uma querer atípico ainda, de querer saber, tocar, ver, ouvir e sentir, esse, que não se explica. Pois bem, já dizia minha mãe, querer não é poder baby. Um coadjuvante de toda essa trama, me disse que é um tremendo erro, começar estórias sem terminar histórias,  por medo da solidão ou a vontade de dar um novo rumo para todo esse emaranhado, começam-se estórias, cujos cursos não sabe-se. Você foi o caso por acaso mais intenso e bem vivido, se assim posso dizer, ainda lembro o sorriso explosivo com as piadas sem graça vendo o programa do Jô, poderia descrever com detalhes as expressões e o meu coração que pulsava descontroladamente pelas madrugadas a dentro, com as infindáveis conversas, risos bobos e o silêncio que falava por nós. Tento ter o controle, ao abrir as gavetas das nossas lembranças, tudo tão enfático, tão intenso, e agora, o vejo indo embora, dando as costas a tudo que foi vivido. E eu, que ainda te quero tanto bem, só tenho os resquícios das marcas no consciente. Sigo acreditando que te amarei, apesar dos outros amores que virão, não igual, nem melhor, nem pior, apenas outros. Eu não nego, eu me entrego você é meu grande amor e hoje eu vou dizer que te amo. 



  Amanheceu, é hora de seguir! 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Casos Inacabados

        Tem gente que vai ficando na nossa vida. A gente conhece, se envolve, termina, mas não coloca um ponto final. De alguma forma a coisa segue. Às vezes, na forma de um saudosismo cheio de desejo, uma intimidade que fica a milímetros de virar sexo. Em outras, como sexo mesmo, refeição completa que mata a fome mas não satisfaz, e ainda pode causar dor de barriga. Eu chamo isso de caso inacabado. Minha impressão é que todo mundo tem ou teve alguma coisa assim na vida. Talvez seja inevitável, uma vez que nem todas as relações terminam com o total esgotamento emocional. Na maior parte das vezes, temos dúvida, temos afeto, temos tesão, mas as coisas, ainda assim, acabam. Porque o outro não quer. Porque os santos não batem. Porque uma terceira pessoa aparece e tumultua tudo. Mas o encerramento do namoro (ou equivalente) não elimina os sentimentos. Eles continuam lá, e podem se tornar um caso inacabado. Isso às vezes acontece por fraqueza ou comodismo. Você sabe que não está mais apaixonado, mas a pessoa está lá, dando sopa, e você está carente... Fica fácil telefonar e fazer um reatamento provisório. Se os dois estiverem na mesma vibração – ou seja, desapaixonados – menos mal. Mas em geral não é isso. Quase sempre nesse tipo de arranjo tem alguém apaixonado (ou pelo menos, dedicado) e outro alguém que está menos aí. A relação fica desigual.  De um lado, há uma pessoa cheia de esperança no presente. Do outro, alguém com o corpo aqui, mas a cabeça no futuro, esperando, espiando, a fim de algo melhor. Claro, não é preciso ser psicólogo para perceber que mesmo nesses arranjos desequilibrados a pessoa que não ama também está enredada. 
     De alguma forma ela não consegue sair. Pode ser que apenas um dos dois faça gestos apaixonados e se mostre vulnerável, mas continua havendo dois na relação. Talvez a pessoa mais frágil seja, afinal, a mais forte nesse tipo de caso. Pelo menos ela sabe o que está fazendo ali. Esse tipo de caso inacabado é horrível. Ele atrapalha a evolução da vida. Com uma pendência dessas, a gente não avança. Você encontra gente legal, mas não se vincula porque sua cabeça está presa lá atrás. Ou você se envolve, mas esconde do novo amor uma área secreta na qual só cabem você e o caso inacabado. A coisa vira uma traição subjetiva. Não tem sexo, não tem aperto de mãos no escuro, mas tem uma intimidade tão densa que exclui o outro – e emocionalmente pode ser mais séria que uma trepada. Ainda que seja mera fantasia. A minha observação sugere, porém, que boa parte dos casos inacabados não contém sexo. A pessoa sai da sua cama, sai até da sua vida, mas continua ocupando um espaço na sua cabeça. Você pode apenas sonhar com ela, pode falar por telefone uma vez por mês ou trocar emails todos os dias. De alguma forma, a história não acabou. A castidade existe, mas ela é apenas aparente. Na vida emocional, dentro de nós, a pessoa ainda ocupa um espaço erótico e afetivo inconfessável. A rigor, a gente pode entrar numa dessas com gente que nunca namorou. Basta às vezes o convívio, uma transa, meia transa, e lá está você, fisgado por alguém com quem nunca dormiu – mas de quem, subjetivamente, não consegue se esquivar. Telefona, cerca, convida. Estabelece com a pessoa uma relação que gira em torno do desejo insatisfeito, do afeto não retribuído. Vira um caso inacabado que nunca teve início, mas que, nem por isso, chega ao fim. Um saco. Se tudo isso parece muito sério, relaxe. Há outro tipo de caso inacabado que não dói. São aquelas pessoas de quem você vai gostar a vida toda, cuja simples visão é capaz de causar felicidade. Elas existem.
    Você não vai largar a mulher que ama para correr atrás de uma figura dessas, mas, cada vez que ela aparecer, vai causar em você uma insurgência incontrolável de ternura, de saudades, de carinho. O desejo, que já foi imenso, envelheceu num barril de carvalho e virou outra coisa, meio budista. Você olha, você lembra, você poderia querer – mas já não quer. Você fica feliz por ela, e esse sentimento é uma delícia. Para encerrar, uma observação: o alcance e a duração dos casos inacabados dependem do momento da vida. Se você está solto por aí, vira presa fácil desse tipo de envolvimento. Acontece muito quando a gente é jovem, também se repete quando a gente é mais velho e está desvinculado. Mas um grande amor, em qualquer idade, tende a por as coisas no lugar. Uma relação intensa, duradoura, faz com que a gente coloque em perspectiva esses enroscos. Eles não são para a vida inteira, eles não determinam a nossa vida. Quem faz diferença é quem nos aceita e quem nós recebemos em nossa vida. O que faz diferença é o que fica. O resto passa, que nem um porre feliz ou uma ressaca dolorosa.

Ivan Martins